Não retire todo o lucro da farmácia

Parte desse lucro deve ser utilizada para fazer melhorias na loja ou até mesmo expandir o negócio.
Não retire todo o lucro da farmácia
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O lucro líquido não é sinônimo de retirada pelo proprietário ou sócios. Melhor dizendo, você não deve retirar todo o lucro da sua farmácia, porque você precisa dele para melhorar o layout da loja, expandir o mix ou até mesmo abrir uma nova drogaria. É importante entender o conceito de que o dinheiro que sobra no caixa é do CNPJ e não do CPF. Ele até pode se transformar em dinheiro do CPF, por exemplo, se for distribuído como dividendo, mas, a princípio pertence à farmácia.

Esse assunto é polêmico e confuso porque muitos empresários e empresárias ainda acham que o valor que sobrou no fim do mês pode virar salário, mas não pode. E a explicação está neste artigo. Segundo o consultor, especialista no tema e diretor do Instituto Bulla, Cadri Awad, não existe uma regra que determine o quanto pode ser retirado pelos sócios, mas é preciso ter bom senso.

Toda farmácia precisa determinar o que deseja obter de resultado mensalmente e, para isso, necessita conhecer suas despesas fixas e variáveis. A partir do momento em que as retiradas dos sócios passam a comprometer a capacidade de a empresa arcar com essas despesas, as retiradas precisam ser revistas e adequadas à real capacidade de pagamento da farmácia. “Costumo dizer o seguinte: aquilo que nós, empresários, estabelecemos como retirada precisa estar planejado no custo operacional fixo da nossa empresa”, ensina Cadri.

Retiradas não podem comprometer o caixa

Se as retiradas forem altas demais a ponto de comprometer a capacidade de pagamento da empresa, a farmácia corre sérios riscos financeiros, a começar pela falta de capital de giro, ou seja, recurso financeiro que deve ser usado no crescimento do negócio ou investido nas metas estabelecidas para o ano.

Estamos no fim de 2024. Qual é o plano da farmácia para 2025? Pretende abrir novas lojas? Deseja reformar a loja já existente? Se a empresa tem projetos de crescimento, ela precisa contar com capital de giro para crescer e para enfrentar os desafios dos próximos anos. Sendo assim, não é recomendável sempre retirar todo o lucro que fica na última linha do Demonstrativo de Resultados.

“O lucro é para fazer melhorias na farmácia, uma reforma, consertar a gôndola que está quebrada, melhorar a iluminação. Se o empresário for apenas sacando todo o lucro do negócio, ele vai trabalhar para pagar despesas, e o negócio vai estagnar, parar de crescer”, alerta Cadri.

Além dos fatores já citados, atualmente sabemos que a diversificação do mix é vital para o crescimento das empresas. Estudos da Close-up, empresa que audita o setor, já demonstrou a correlação existente entre mix variado e faturamento de uma farmácia. E a diversificação do mix vem do lucro revertido em investimento. Se não há sobra de caixa, não há dinheiro para diversificar.

Outro ponto que merece ser mencionado é a necessidade de investimento em tecnologia e ferramentas de inteligência artificial. Para isso, a empresa precisa de recursos, e somente existirão recursos se parte do lucro permanecer na conta do CNPJ.

Leia também: Economia tributária de R$ 260 mil no trimestre

Quanto retirar todo mês do lucro da farmácia?

Sobre as retiradas como distribuição de lucro, não existe um percentual predeterminado pelas contabilidades ou especialistas em gestão financeira. Elas dependem muito do planejamento estratégico. No entanto, via de regra, as empresas costumam definir um valor que vai de 10% a 30% de retirada da sobra de caixa contábil, mas do que isso poderia prejudicar o desempenho e o crescimento da farmácia, que precisa ter liquidez para o seu desenvolvimento. Vale um alerta para quando houver sócios, sendo fundamental que definam uma regra para evitar ruídos e conflitos no futuro.

Um exemplo para refletir foi a tragédia no Rio Grande do Sul este ano, que destruiu muitas farmácias, algumas já reconstruídas com recursos que tinham em caixa. Se elas tivessem o hábito de sacar todo o lucro líquido, não teriam nenhum dinheiro em caixa para reconstruírem os seus negócios.

“Eu viajo por todo o Brasil e presto consultoria em centenas de farmácias. Em 90% delas, a sobra de caixa é utilizada de maneira indevida. Os proprietários usam o dinheiro da empresa para pagar contas pessoais. Quando a gente vai apurar o tamanho da retirada, a maior parte não sabe responder, e quando responde, a gente vai descobrir que a retirada, às vezes, é três vezes maior do que o valor que o próprio empresário declara”, conta Cadri.

Outro exemplo veio com a pandemia. Muitas farmácias pegaram o Programa Nacional de Apoio às Microempresas e Empresas de Pequeno Porte (Pronampe), financiamento oferecido pelo governo, para comprar carro e reformar a casa.

Use parte dos dividendos para sua previdência privada

No Brasil, os dividendos não são tributados, mas a Reforma Tributária pode trazer mudanças em relação a isso. Entretanto, até que isso aconteça, a classe empresária costuma optar por valores em pró-labore mais baixos e retiradas como dividendos em valores mais altos. No recebimento do salário incidem INSS e Imposto de Renda, além de outros recolhimentos, enquanto os dividendos não são tributados, compensando financeiramente. E fica aqui uma dica: usar parte desses dividendos para fazer uma previdência privada, porque a previdência pública já enfrenta dificuldades.

Esperamos que esse conteúdo lhe ajude a entender que você até pode retirar todo o lucro da farmácia, mas não é o recomendável. E aproveitamos para lembrar que estamos no momento mais propício para fazer o planejamento tributária da empresa. O enquadramento correto pode trazer economia tributária e deixar mais recursos no seu caixa.

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