Devido à pandemia do novo coronavírus, seguimos com interrupção das atividades econômicas, fechamento do comércio e isolamento social. O governo começa a falar numa abertura controlada, mas ainda sem estratégias concretas. Isso nos leva a pensar em quais soluções devemos adotar para salvar o caixa da farmácia.
Estamos começando a viver uma das maiores crises econômicas que o Brasil já conheceu, provocada por uma crise na saúde. O cenário é desconhecido e de incertezas, principalmente porque ainda não sabemos o tamanho do comprometimento da renda das pessoas. Sem renda, não há consumo. A projeção é de uma queda de 6,4% no PIB, uma taxa altíssima.
A Farma Contábil vem recebendo ligações de clientes sobre as medidas governamentais disponíveis para amenizar a crise econômica. Querem saber como administrar melhor o caixa da empresa, o maior afetado pela queda brusca no consumo. Temos conhecimento de drogarias que perderam 70%, 80%, 90% do faturamento desde que o governo decretou o fechamento do comércio em meados de março.
Há diversas tentativas do governo em distribuir dinheiro por meio do BNDES, que ainda está se estruturando e definindo como vai trabalhar com os bancos. No entanto, especialistas da área financeira estão pouco otimistas, já que a boa vontade dos bancos em emprestar é diretamente proporcional ao risco de inadimplência, que cresce a cada dia.
Aqui vão as nossas dicas para você superar a crise e virar o jogo!
#1 Assimile o problema e não reclame
Essa dica é comportamental, afinal tudo começa na forma como você, empresário, se coloca diante das situações. Reclamar não vai resolver o seu problema. Então, acorde cedo, tome seu café e arregace as mangas. De preferência colocando em prática as dicas que vamos dar a seguir.
#2 Adote medidas que o governo disponibilizou
– Programa Emergencial de Manutenção do Emprego e da Renda (Medida Provisória 936, de 1º/4/2020), que autoriza, por meio de acordo individual ou coletivo, a redução proporcional de jornada e salários, bem como a suspensão temporária do contrato de trabalho.
Leia também: Entenda a MP da manutenção do emprego e da renda
– Programa Emergencial de Suporte a Empregos (Medida Provisória 944, de 3/4/2020), que autoriza o financiamento da folha de pagamento no valor de até dois salários mínimos por funcionário pelo período de dois meses. O prazo para pagamento é de 36 meses com juros de 3,75% ao ano. O primeiro pagamento com carência de 6 meses.
#3 Faça ajustes na estrutura de custos
Esse ajuste é extremamente necessário para que você reduza o impacto no seu caixa a curto e médio prazos. E, nessa tempestade, agarrar-se ao caixa é fundamental. Por isso, adote imediatamente duas medidas:
1ª Projeção de fluxo de caixa a curto prazo, verificando as entradas previstas para as próximas semanas e o que terá de ser pago nesse período. De tudo o que se tem para pagar, separe os fornecedores em dois grupos: críticos e não críticos.
Entre os fornecedores críticos podemos destacar aqueles que abastecem o seu estoque e aqueles que fazem a sua farmácia andar: indústrias, distribuidores e funcionários. Não deixe de pagá-los, mas também não descarte ganhar mais tempo e adotar as medidas trabalhistas que citamos acima.
Entre os fornecedores não críticos estão todos os outros com os quais você tem algum tipo de vínculo, inclusive o governo, um grande sócio do seu negócio. Ligue para todos esses fornecedores, explique a situação, diga que não consegue pagar e que vocês precisam renegociar os termos acordados. Mas faça isso você mesmo, não seu funcionário. A relação tem que ser pessoal, sem intermediários. A renegociação com fornecedores tem como objetivo garantir mais recursos em caixa.
2ª Projeção de fluxo de caixa a médio prazo, verificando entradas e saídas dos próximos três, quatro meses. Trata-se de um ajuste de custo que se possa fazer hoje para garantir mais tranquilidade à frente. Repasse toda a sua estrutura de custo e avalie custo a custo, cortando o que for desnecessário. Mesmo que o impacto desse corte não seja imediato, vai garantir mais tranquilidade no futuro, porque não sabemos até quando essa crise vai durar.
#4 Dê atenção especial ao estoque
Uma medida fundamental a ser adotada é reprogramar as compras de acordo com a expectativa de venda. A organização financeira de uma empresa deve começar pelos grandes grupos. Na farmácia, esse grande grupo é o mix de produtos. Para que você tenha uma ideia, o Custo da Mercadoria Vendida (CVM) de uma drogaria, um dos principais indicadores de desempenho, varia em torno de 65% a 70% das vendas. Um percentual bastante elevado.
Por isso, a boa gestão do estoque impacta diretamente no fluxo de caixa. Em períodos de crise, a farmácia não pode continuar comprando sem antes avaliar a projeção de venda. Converse com o seu fornecedor, negocie preço e estenda prazos para pagamento.
#5 Opte pela antecipação de recebíveis
Atualmente, a menor taxa de juros está na antecipação de recebíveis de cartão de crédito. É a fonte de crédito mais barata que existe no mercado financeiro, chegando a menos de 1% ao mês. E ainda mais vantajosa que pegar empréstimo em bancos tradicionais.
Com o risco da inadimplência subindo a cada dia por causa do comprometimento da renda das pessoas, a sugestão é antecipar tudo o que for possível para fazer caixa. No entanto, antecipar não significa que você pode sair por aí gastando tudo. Pelo contrário, segure o máximo que conseguir.
Por isso, a negociação com fornecedores é fundamental. Também não adianta antecipar sem fazer a gestão do estoque, porque você corre o risco de continuar comprando muito além da real demanda de consumo durante a crise.
#6 Aplique para pagar os juros depois
Uma alternativa para fazer caixa é pegar um empréstimo a uma boa taxa e depois aplicar esse valor para que você possa pagar os juros com o rendimento dessa aplicação. Parece loucura, mas não é, desde que seja numa aplicação que você possa lançar mão do dinheiro caso precise dele.
Nossa sugestão é investir no Tesouro Direto Selic, porque o empréstimo é para fazer reserva de liquidez. Não se pode admitir perda nessa reserva financeira. Lembre-se: você já está pagando um custo pelo empréstimo.
Essa opção de investimento é de baixo risco e fácil resgate, considerando ainda que o empréstimo que você fez para gerar caixa é uma operação de curto prazo. Poupança e CDB também podem ser boas opções porque têm liquidez diária.
Como a negociação com os bancos privados é mais complexa do que parece, nossa sugestão é tentar desenvolver uma relação com bancos governamentais. Se o governo perceber que nenhum banco privado vai se mexer, Banco do Brasil e Caixa Econômica Federal poderão ser obrigados a entrar em campo.
A empresa NIBO criou um portal focado exclusivamente na pandemia de Covid-19, com várias dicas e planilhas que estão ajudando empresas brasileiras a passarem por essa tormenta com menos danos. Nesse portal, há links diretos com os bancos, que podem ser utilizados por empresas em busca de financiamento.
#7 Busque uma fintech
O Banco Central vem tentando flexibilizar o sistema financeiro para aumentar a concorrência. Nesse contexto, sugiram as fintechs, empresas com propostas inovadoras, embarcadas em sistemas de tecnologia da informação, que fazem com maior agilidade a prestação de serviços no âmbito financeiro. Em geral, são bancos digitais que não precisam de uma agência física.
Conhecidas pela pouca burocracia e pela agilidade na hora de conceder o crédito, as fintechs estão revolucionando o mercado financeiro. Porém, elas não dispõem de capital para grandes financiamentos, mas podem ser alternativas para quem não conseguiu empréstimo no banco tradicional devido às restrições de crédito ou dificuldades para obter certidões, por exemplo.
A maioria das fintechs é voltada a empréstimos pessoais, como Geru, Rebel e Nubank, mas há outras dedicadas a financiamentos empresariais, como a Nexoos, que está praticando taxas de 1,14% a 4,19% ao mês, sem pedir garantias em troca.
Depois dessas dicas, a gente espera que você atravesse essa crise com muito mais serenidade financeira.