Capital de giro é o recurso que uma empresa precisa ter na conta corrente para qualquer eventualidade financeira, como queda repentina nas vendas, demissão de um funcionário de muitos anos de casa ou aumento da inadimplência. Esse dinheiro extra em caixa vai evitar que a farmácia enfrente problemas mais sérios no pagamento de suas obrigações, como despesas e fornecedores, caso se veja diante de algum desses imprevistos citados acimas.
Muita gente confunde capital de giro com fundo de reserva, mas, para Adriano Schinetz, consultor na Gestão Farma, são conceitos diferentes. “O fundo deve ser usado para o que o dono da farmácia quiser, geralmente para fazer reformas na loja, trocar o sistema da farmácia, mudar a fachada, mas não para minimizar riscos financeiros”, explica.
Principais riscos que o capital de giro deve cobrir
– Queda nas vendas: a oscilação no faturamento da farmácia pode ocorrer durante o ano todo. O comércio farmacêutico sofre pouco impacto com as crises econômicas, mas o risco existe. Na pandemia de Covid-19, drogarias que estavam em centros comerciais, por exemplo, foram muito impactadas porque as pessoas deixaram de sair de casa para trabalhar e passaram a comprar nas lojas de bairro. Portanto, o risco é real.
– Inadimplência: em geral, o consumidor paga em dinheiro, débito ou crédito. Então, inadimplência não seria um problema não fossem os convênios firmados, principalmente por parte das independentes. Se a empresa com a qual o convênio foi estabelecido não pagar dentro do mês combinado, a farmácia terá um grande problema, porque vai faltar dinheiro para o pagamento das obrigações. Outro exemplo, é o convênio Aqui Tem Farmácia Popular, cujo repasse do governo pelos medicamentos fornecidos à população pode levar alguns meses para cair na conta da drogaria.
Pagamento de fornecedores e demissão entram na conta
– Pagamento de fornecedores acima do padrão correto: Atualmente, em muitas lojas, não há um planejamento correto, e os pagamentos a fornecedores, muitas vezes, excedem a capacidade de caixa. Esse tipo de situação resultará no atraso do pagamento de um fornecedor – ou até mais –, o que poderá levar a loja a ter restrição de crédito. Com restrição, a farmácia comprará menos e, consequentemente, reduzirá o nível de estoque, provocando ruptura de produtos. E, quando há ruptura, a farmácia vende menos. Para que isso não aconteça, é necessário planejar as compras e os pagamentos, e quando ocorrer excesso – que não pode ser constante – o capital de giro ajudará a resolver esse problema.
– Rescisão de alto custo: toda empresa está sujeita a demitir um funcionário com muitos anos de casa. A rescisão provavelmente será alta, causando um grande impacto no caixa da farmácia naquele período. Por isso, também é importante que o capital de giro seja suficiente para cobrir essa eventual despesa, caso ocorra sem estar planejada.
“É preciso ter muito cuidado com essas quatro situações, porque são de risco. Qualquer uma delas, se não tratada de forma correta, acaba ocasionando, dentro do mês ou do período, um desembolso extra para a farmácia. Se ela não tiver um capital de giro preparado para prevenir esses riscos, vai sofrer financeiramente”, reforça Schinetz, da Gestão Farma.
Leia também: Vantagens de uma contabilidade especializada em varejo farmacêutico
Como calcular o valor do capital de giro
Teoricamente existem alguns conceitos nos livros de contabilidade, entre eles, aqueles que dizem ser necessário ter de três a cinco faturamentos mensais como capital de giro ou de três a cinco meses do total de despesas. “Imagine uma farmácia que venda R$ 1 milhão ao mês. Muitas das teorias são inviáveis e sabemos que é um cenário irreal para a maioria dos empresários”, observa o consultor.
Sendo assim, quanto a farmácia deve ter realmente de capital de giro para manter a operação do negócio sem risco e trabalhar com tranquilidade no dia a dia? Para Schinetz, o suficiente para cobrir os quatro principais riscos citados acima.
Veja como fazer os cálculos
Para assegurar uma possível queda nas vendas, a farmácia deve observar em quais meses do ano ocorre redução significativa no faturamento, calcular essa redução e guardar esse valor. Suponha-se que seja R$ 20 mil.
A esse valor, o dono da farmácia vai somar o valor da rescisão mais alta de sua equipe. Se João, que trabalha na empresa há 20 anos, for demitido hoje, quanto custará sua demissão? Suponha-se que seja R$ 15 mil. Note que o capital de giro já passou para R$ 35 mil.
Imagine agora que a sua farmácia venda R$ 30 mil por mês para a prefeitura da cidade. Se ela não pagar, será um problema. Então, some mais R$ 30 mil ao capital de giro, passando-o para R$ 65 mil.
Calcule a reserva a ser feita para o fornecedor
Por fim, o pagamento de fornecedores acima do padrão saudável. Se há necessidade de em alguns meses comprar e pagar além do padrão correto – muitas vezes, isso ocorre na pré- sazonalidade do inverno –, verifique esses valores e some-o aos outros três mencionados acima. Exemplo, se há necessidade de, nos meses de maio e junho, ter um desembolso maior em torno de 30 mil, soma-se esse valor aos outros R$ 65 mil já citados.
“Nesse cenário traçado como exemplo, a farmácia precisa ter um capital de giro no valor de R$ 95 mil para garantir o pagamento das suas obrigações, caso um dos riscos previstos aconteça de verdade. Dificilmente ocorre tudo ao mesmo tempo ou no mesmo mês, mas risco é risco. É preciso se prevenir, pelo menos, contra os básicos”, alerta Schinetz. E, se você precisar usar o seu capital de giro, assim que possível, reestabeleça o valor inicial.
Antecipação de recebíveis ou empréstimo bancário?
As farmácias pecam muito quando partem para a antecipação dos recebíveis do cartão de crédito quando precisam de capital de giro. Em geral, as taxas para antecipar as parcelas são mais altas do que as do débito e crédito à vista.
“Antecipar é pagar juros, e pagar juros é reduzir a rentabilidade da empresa. Por isso, não resolve o problema. Antecipar é tratar o efeito, não a causa. Que situações estão levando sua farmácia a não ter dinheiro em caixa para pagar suas obrigações? Não adianta antecipar o que tinha para receber e não entender por que a falta de recursos está ocorrendo”, explica o consultor da Gestão Farma.
Também não adianta antecipar o recebível se não tiver um fluxo de caixa controlado, tanto que a maioria das farmácias que faz antecipação não consegue sair sozinha desse looping. Todos os meses usa o mesmo recurso sem encontrar uma solução para o problema.
Empréstimos bancários podem ser melhor opção
O empréstimo bancário para obtenção de capital de giro pode ser a melhor alternativa, tanto que há bancos que oferecem linhas de crédito específicas para essa necessidade. “Vai ser mais tranquilo fazer uma parcela fixa para pagar mensal porque ela será incorporada no custo mensal da farmácia. Ao menos, o valor é fixo, e os juros tendem a ser menores que aqueles pagos às operadoras de cartão”, orienta Schinetz.
Mas lembre-se: antecipando recebíveis ou fazendo um empréstimo, o mais importante é entender por que está faltando capital de giro na sua farmácia.