No contexto de venda de uma empresa, temos um importante conceito: o valuation. Trata-se de uma metodologia que estima o quanto de fato vale o seu negócio. Davi Hoffmann, sócio proprietário da DHoffmann Consultoria, explica que o termo em inglês significa literalmente avaliação, sendo, portanto, o processo de definição de um preço justo a ser cobrado pela farmácia quando colocada à venda. “O valuation vai gerar uma referência para a negociação. Não é um número absoluto, mas um critério que cria parâmetros para uma transação complexa”, pontua.
1ª forma: técnica dos múltiplos
Uma das técnicas mais utilizadas é a dos múltiplos. “Isso quer dizer que determinada empresa vale X vezes um determinado valor”, ilustra o consultor. Um exemplo é a técnica do múltiplo da receita de uma farmácia. Nesse caso, ela valerá um múltiplo de sua receita/faturamento. Imagine que essa farmácia fature R$ 400 mil reais por mês e que vamos utilizar um fator múltiplo de 4. Seguindo essa técnica, se a farmácia fatura, em média, R$ 400 mil por mês, o valor da venda será de R$ 1,6 milhão.
Em alguns negócios, o múltiplo é feito com base no resultado líquido, ou seja, em relação à margem da farmácia. Nesse caso, vamos considerar que o resultado seja de 6%. Isso significa que uma farmácia com R$ 400 mil de faturamento no mês lucra R$ 24 mil. Pegue esse resultado e multiplique por 12, chegando a R$ 288 mil de lucro líquido anual. Por fim, multiplique esse valor total por 4: R$ 1,15 milhão é o valor pelo qual você venderia o seu estabelecimento.
No entanto, para Davi, a técnica dos múltiplos tem muitas limitações, havendo outras mais seguras. Essa forma de precificar traz incerteza, uma vez que considera a mesma margem para todas as farmácias. “Quando usamos o múltiplo pela receita, levamos em conta apenas o volume de vendas, mas sabemos que não é assim que funciona. Cada farmácia tem a sua gestão, suas margens etc.”, sendo necessário considerar outros indicadores na hora de dar preço de venda.
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Ao precificar uma farmácia pelo faturamento, você está sujeito a erros. Por isso, ao optar pela técnica de múltiplos, corre-se o risco de superestimar ou subestimar o valor. “Quem está comprando pode acabar pagando mais do que a farmácia vale ou quem está vendendo pode acabar negociando abaixo do valor que a farmácia valeria pelo que gera de recursos financeiros”, exemplifica.
2ª forma: fluxo de caixa descontado
A técnica do fluxo de caixa descontado é um método complexo de precificar uma farmácia, porém mais seguro. Nele, a empresa vale – no dia de hoje – a capacidade que tem de gerar caixa, ou seja, de gerar recursos e resultados. É feita uma série de cálculos e projeções levando em consideração a própria estrutura de custos da farmácia. “Porque, convenhamos, cada negócio pode ter suas particularidades e suas próprias margens”, destaca o especialista.
Tomemos como exemplos a Farmácia 1, que tem faturamento bruto anual de R$ 6 milhões e um resultado líquido de R$ 720 mil ou 12%; e a Farmácia 2, com faturamento bruto anual na ordem de R$ 18 milhões e resultado líquido de 6% ou cerca de R$ 1 milhão.
Considerando o método do fluxo de caixa descontado e os parâmetros econômicos atuais, o valuation da Farmácia 1 seria de, aproximadamente, R$ 4,6 milhões, enquanto o da Farmácia 2, com os mesmos parâmetros, seria de R$ 6,9 milhões.
Portanto, embora o faturamento da Farmácia 2 seja 3 vezes o da Farmácia 1, a valoração do negócio não representa a mesma ordem de grandeza.
Vale mencionar também que, se fosse feita uma oferta de compra da Farmácia 2 pelo método de múltiplos, por exemplo, o lado do comprador seria penalizado em função da capacidade reduzida de geração de caixa, levando em conta a proporcionalidade de movimentações financeiras versus desprendimento de capital.
Logo, o valuation da Farmácia 1 representa 77% do faturamento anual, enquanto o da Farmácia 2 representa apenas 38%.
Assim, esse método permite que se personalize o cálculo para apenas uma identidade empresarial e responde às limitações do método dos múltiplos, que pode subestimar ou superestimar o valor.
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3ª forma: avaliar pelo patrimônio líquido
De acordo com Davi, existe outra metodologia – não tão adequada para farmácias – que consiste em valorar pelo patrimônio líquido registrado na contabilidade. “A empresa vale o seu próprio patrimônio”, pontua.
Nesse método, paradefinir o preço de venda da farmácia, somam-se todos os ativos da empresa, por exemplo, estoque, contas a receber, mobiliário e equipamentos e subtraem-se todos os seus passivos, por exemplo, as contas a pagar para fornecedores. Após esse cálculo, o que restar consiste no patrimônio líquido da farmácia, o valor contábil daquela entidade empresarial.
Imagine que a Farmácia 1, utilizada no exemplo anterior, seja composta do seguinte cenário:
Ativos:
- Contas a receber: R$ 1.000.000,00
- Estoque: R$ 250.000,00
- Bancos (Conta Corrente e Aplicações): R$ 750.000,00
- Equipamentos e Mobiliários: R$ 500.000,00
Passivos:
- Contas a pagar: R$ 500.000,00
- Empréstimos: R$ 500.000,00
Patrimônio Líquido (Operação matemática de ‘Ativo-Passivo’): R$ 1.500.000,00
Esse seria o valuation final com esse método, que podemos chamar até de mais simplório, mas que também desconsidera muitas outras variáveis do negócio, como o próprio momento financeiro e os resultados.
Muitas vezes, o patrimônio líquido não representa a capacidade real que a farmácia tem de gerar resultados. Por isso, em geral, é um método que não se aplica à realidade do varejo farmacêutico.
“A nossa sugestão seria, portanto, usar o método de fluxo de caixa descontado, porque ele leva em consideração particularidades da farmácia, estrutura de custos e despesas, capacidade de geração de receita, margens praticadas, forma de precificar e conceder descontos etc.”, orienta o especialista.
Dívidas impactam na negociação final, não no valuation
No método de múltiplos, se você precificar uma farmácia pelo faturamento,esse preço não considera as dívidas da farmácia, pois o direcionamento será pelo volume vendido.
Já no fluxo de caixa descontado, serão levados em consideração, no momento do valuation, o quanto a farmácia gera de vendas, quanto paga de impostos, quanto tem de custo com produtos e mercadorias vendidas, todas as despesas, resultados gerados. “Já vimos que, no fluxo de caixa descontado, a empresa vale sua capacidade de gerar recursos financeiros”, reforça Davi.
As dívidas do negócio entram em um momento posterior à negociação, não durante o valuation, que calcula apenas o valor da operação. Somente depois que o preço de venda da farmácia for definido é que se discute a dívida líquida. “Essa farmácia tem dívida? Qual o saldo devedor? Deve-se perguntar o comprador. Aqui é o momento de subtrair o valor da dívida do preço de venda”, orienta o especialista.
Nesse caso, se o valuation foi de R$ 1 milhão e a farmácia tem R$ 100 mil de saldo devedor, esse saldo deverá ser abatido. Isso vale para dívidas com bancos, governo, Receita Federal, entre outras. Tudo é subtraído posteriormente ao valuation durante a negociação.